Solitude

Solidão? Qual a tua aposta, ó leitor: ela existe, rodeando as pessoas, as suas cabeças, os seus corações pregados a saudade ou, pura e simplesmente, é fruto do enjoo matinal de cada um de nós? Efectivamente, num mundo de milhões, as teorias recriaram-se sobre tal, formando torres cada vez mais altas mas que, sinistramente, nunca chegaram a um ponto comum.

O nosso primeiro momento de solidão...? Quando nascemos. Despregados de um tudo, ficamos no nada. Vazio, estranho, oco, frio, cinzento, assustador, berramos por tal. Mas ele persiste. Depois passamos a ter mãos, passamos a ter toalhas enroladas, passamos a ganhar sorrisos, passamos a ter aquele bibe bordado pela mamã, passamos a ter sussurros, passamos a ter vestidos, passamos a ter beijos, passamos a ter caras, passamos a ter mundos nossos. Passamos a ganhar também carradas de porrada de vez em quando.

Então, acordamos na cama. Esticamos os braços e, uau, o nosso mundo! Mas, o nosso mundo cabe entre os nossos braços, é tão pequeno, "vazio, estranho, oco, frio, cinzento, assustador, e berramos por tal". Onde está o resto?

Não, não concordo com a solidão. Porque a solidão está entre braços, não entre corações. A solidão cabe-nos nos braços, mas não entra no coração. A solidão é palavra adjacente mas, não, não temos num mundo complanar ao nosso também esses todos milhões, essas carradas de formigas em planeta terrestre. Temos AS. Temos não ESSAS, mas AS. E só as AS importam, não ESSAS carradas, mas AS nossas carradas.

Agora: levanta, levanta - sim - da cama!