Despedida


Não me largues. Aperta-me com mais força e mais força ainda. Deixa-me encostar o meu corpo ao teu enquanto o tempo o permite e, mesmo que não o permita, pressiona-me sempre. Enlaça as tuas mãos nas minhas, sente o toque calmo e o movimento de cada dedo. (Faço-o de propósito, para sentires que eu, pessoa que te ama, está aqui.)

Percorre-me a espinha, provoca-me tremores de prazer. Deixa-me beijar-te o pescoço, deixa-me continuar a dizer - hoje de manhã, hoje à tarde, à noite, e amanhã, e em todo o futuro - que "Gosto mesmo muito de ti, miúdo.". Sente o calor irradiado pelo meu sentimento, sente-o por favor enquanto não me largas... embora, ó tu, não me largues, não me largues, não!

Aperto-te com mais força, tu apertas-me com mais força... e... l a r g a s - m e.


Ó, demónios, deixem-me rebolar no chão, deixem-me rastejar pelo mundo daquele que me largou, deixem-me "não o largar". Mas, como contra a vontade do coração, fico quieta, estática, de lágrimas estancadas nos olhos: tu estás igual, mal falas e quando o fazes é um suspiro de medo, um suspiro temido. Tu querias chorar, chora. Junta as mãos, chora comigo, abraça-me novamente, "não me largues" - grito-te silenciosamente.

"Eu tenho de ir embora." - dás um passo atrás, sem me tirar os olhos.

Tu queres guardar cada pedaço de recordação minha. Eu também o quero, fica. Fica por mim, pelos nossos sorrisos, nossas gargalhadas, nossas palavras, nossas brincadeiras. Fica por estes olhares, que me fazem sorrir entre a frescura de cada sonho que me apanha nestas noites de Verão.

Queria berrar, ter força de um ser selvagem, mostrar-te como ainda te queria aqui. Mas tu sais e, fracamente, desisto da ideia. São os teus pés, o teu caminho, os teus passos. Não sou eu quem os comanda, quando a minha rua já tem um dono.

Ainda assim, corro contra o vento. Removo esse portão maldito que nos separou na despedida...


(Tu partis-te apressado, rompendo o caminho de braços a acompanhar o ritmo rápido do corpo... de lágrimas a escorrer - juro tal por saber quem és.)